Os fitoterápicos representam uma das formas mais antigas de medicamentos usados pela humanidade, e continuaram a ser amplamente utilizados até meados do século XX, quando medicamentos sintéticos, produzidos em laboratório, começaram a dominar o mercado. No entanto, mesmo hoje em dia, muitos medicamentos são desenvolvidos a partir de fontes vegetais. No Brasil, a regulamentação de todos os medicamentos, incluindo fitoterápicos, é responsabilidade da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A Anvisa não só regula a produção e comercialização desses produtos, mas também realiza o monitoramento contínuo e pode determinar a retirada de fitoterápicos do mercado caso identifiquem riscos à saúde pública.
Os fitoterápicos são preparados a partir de plantas medicinais que têm uma longa tradição de uso para tratar diversas condições de saúde. Esses produtos são diferentes dos medicamentos sintéticos, que são desenvolvidos por meio de processos técnicos e contêm substâncias padronizadas, com segurança, eficácia e qualidade verificadas por ensaios clínicos e estudos científicos. As plantas medicinais podem conter uma vasta gama de compostos químicos, que, quando utilizados corretamente e em combinações adequadas, podem ter efeitos terapêuticos variados, como a prevenção, tratamento e até cura de doenças.
Fitoterápicos são formulados com base em plantas medicinais e podem ser encontrados em várias formas farmacêuticas, incluindo cápsulas, comprimidos, pomadas, xaropes e tinturas. Esses produtos podem conter a planta seca, conhecida como droga vegetal, ou extratos e outros derivados vegetais, que são misturados com excipientes para criar a formulação final. Os excipientes podem incluir substâncias que melhoram o sabor, a aparência ou a estabilidade do fitoterápico.
Alguns fitoterápicos, especialmente aqueles destinados a tratar condições graves ou que requerem um monitoramento contínuo, só podem ser prescritos por profissionais de saúde qualificados, como médicos. Estes produtos são frequentemente identificados com uma faixa vermelha na embalagem, indicando que são sujeitos a prescrição médica. Há também fitoterápicos que não necessitam de receita e podem ser recomendados por outros profissionais de saúde, como farmacêuticos e nutricionistas, para condições menos graves.
Adicionalmente, existem farmácias especializadas na manipulação de fitoterápicos, conhecidas como Farmácias Vivas. Essas farmácias públicas de saúde têm a função de cultivar, coletar, processar, armazenar, manipular e distribuir plantas medicinais e fitoterápicos. O Ministério da Saúde oferece informações sobre a disponibilidade e os serviços de fitoterapia em diferentes municípios, permitindo que a população tenha acesso a esses tratamentos.
Os fitoterápicos industrializados são aqueles produzidos por indústrias farmacêuticas que devem seguir rígidas normas de boas práticas de fabricação. Essas práticas garantem que os medicamentos sejam produzidos com a qualidade e segurança necessárias. Antes de serem comercializados, os fitoterápicos industrializados devem ser registrados e aprovados pela Anvisa. Após essa aprovação, eles podem ser vendidos ou distribuídos em farmácias e drogarias, garantindo que atendam aos padrões estabelecidos para eficácia e segurança.
Esse processo de regulamentação e produção busca assegurar que os fitoterápicos ofereçam benefícios terapêuticos eficazes, ao mesmo tempo em que minimizam riscos potenciais para os consumidores.
O uso de fitoterápicos sem a orientação de um profissional de saúde pode acarretar diversos riscos. como:
- Interações Medicamentosas: Fitoterápicos podem interagir com medicamentos prescritos, alterando sua eficácia ou aumentando o risco de efeitos adversos. Por exemplo, algumas ervas podem potencializar ou inibir o efeito de medicamentos anticoagulantes, como a varfarina.
- Efeitos Colaterais: Embora muitas pessoas considerem fitoterápicos como seguros, eles podem causar efeitos colaterais. O uso inadequado ou excessivo pode levar a reações adversas, que variam desde problemas gastrointestinais até reações alérgicas graves.
- Dosagem Incorreta: A dosagem recomendada pode variar dependendo da planta e do estado de saúde da pessoa. O uso de fitoterápicos sem a orientação adequada pode resultar em dosagens erradas, seja por excesso ou deficiência, o que pode comprometer a eficácia e segurança.
- Qualidade e Pureza: A qualidade e a pureza dos fitoterápicos podem variar bastante. Produtos de origem duvidosa podem conter contaminantes, adulterantes ou ingredientes não listados no rótulo.
- Falta de Eficácia: Sem uma prescrição adequada, pode-se acabar utilizando fitoterápicos que não são eficazes para a condição em questão, levando a atrasos no tratamento e agravamento da situação de saúde.
É sempre recomendável buscar a orientação de um médico ou profissional de saúde qualificado antes de iniciar qualquer tratamento fitoterápico, especialmente se estiver tomando outros medicamentos ou tiver condições de saúde preexistentes.
O desenvolvimento e a produção de fitoterápicos a partir de plantas medicinais envolvem diversas etapas essenciais, desde a identificação das plantas até a comercialização dos produtos finais. Pode ser citado algumas das etapas do processo:
1. Identificação e Seleção da Planta
○ Pesquisa e Tradição: O processo frequentemente inicia com o estudo de plantas que têm um histórico de uso em diferentes culturas para tratar condições de saúde específicas.
○ Estudos Científicos: Para garantir a eficácia e segurança, a planta passa por avaliações rigorosas em estudos científicos e ensaios clínicos, que confirmam suas propriedades terapêuticas e identificam possíveis efeitos colaterais.
2. Coleta e Cultivo
○ Qualidade da Matéria-Prima: A qualidade do fitoterápico está diretamente ligada à qualidade das plantas utilizadas. Elas podem ser coletadas em estado selvagem ou cultivadas em ambientes controlados para garantir pureza e consistência.
○ Métodos de Coleta: A coleta deve ser feita no período ideal, geralmente quando os compostos ativos estão mais concentrados, para maximizar a eficácia do produto final.
3. Processamento
○ Preparação: Após a coleta, as plantas são limpas, secas e moídas. O método de processamento pode variar conforme o tipo de fitoterápico a ser produzido.
○ Extração: Os princípios ativos são extraídos através de métodos diversos como maceração, infusão, decocção ou extração com solventes. A escolha do método depende da planta e dos compostos desejados.
4. Padronização
○ Controle de Qualidade: Para garantir a concentração adequada dos princípios ativos e a qualidade desejada, o produto precisa ser padronizado. Isso envolve testes laboratoriais e um controle rigoroso das matérias-primas e do processo de produção.
5. Formulação
○ Desenvolvimento da Fórmula: A planta pode ser formulada em diversas formas, como extratos secos, cápsulas, pós, tinturas ou chás. A formulação deve ser adequada para o uso pretendido e garantir a estabilidade do produto.
○ Excipientes: São adicionados excipientes (substâncias não ativas) para melhorar a estabilidade, absorção ou sabor do produto final.
6. Ensaios Clínicos e Estudos de Segurança
○ Evidência Científica: Antes de chegar ao mercado, o fitoterápico deve passar por ensaios clínicos para verificar sua segurança e eficácia em humanos, ajudando a identificar possíveis efeitos adversos e definir suas indicações terapêuticas.
7. Regulamentação e Aprovação
○ Agências Reguladoras: O fitoterápico deve ser aprovado por órgãos reguladores de saúde, como a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) no Brasil ou a FDA (Food and Drug Administration) nos Estados Unidos. Essas agências avaliam a segurança, eficácia e qualidade do produto antes da sua comercialização.
8. Produção em Larga Escala
○ Boas Práticas de Fabricação (BPF): A produção deve seguir as Boas Práticas de Fabricação para garantir que o produto final seja seguro e eficaz. Isso inclui manter ambientes limpos, controlar a qualidade e documentar adequadamente o processo.
○ Embalagem e Rotulagem: O fitoterápico é embalado e rotulado com informações importantes, como dosagem, ingredientes, data de validade e advertências de segurança.
9. Comercialização e Monitoramento
○ Distribuição: O produto é então distribuído para o mercado, podendo ser vendido em farmácias, lojas de produtos naturais ou online.
○Monitoramento Pós-Comercialização: Após a introdução no mercado, é crucial monitorar o uso do produto para identificar e gerenciar quaisquer efeitos adversos ou problemas de qualidade.
Essas etapas garantem que o fitoterápico seja desenvolvido de forma segura e eficaz, atendendo aos padrões estabelecidos para beneficiar a saúde dos consumidores.
Autores: Thaylana Déborah Silveira, Juliane Soares Paulino e Yonara Saldanha, membros do AIChE UFC.
Referências:
ANVISA. Orientações sobre o uso de fitoterápicos e plantas medicinais. Brasília: Agência Nacional de Vigilância Sanitária, 2021. Disponível em: https://www.gov.br/anvisa/pt-br/centraisdeconteudo/publicacoes/medicamentos/publicacoes -sobre-medicamentos/orientacoes-sobre-o-uso-de-fitoterapicos-e-plantas-medicinais.pdf. Acesso em: 21 ago. 2024.
Heinrich, Michael; Barnes, Julian; Gibbons, Simon; Williamson, Elizabeth M. Principles and Practice of Phytotherapy: Modern Herbal Medicine.
World Health Organization (WHO) WHO Monographs on Selected Medicinal Plants. https://www.who.int/publications/i/item/9241545178 .Acesso em: 21 ago. 2024.
Veja mais textos em https://betaeq.com.br/blog/
Conheça os cursos virtuais da BetaEQ disponíveis em https://www.engenhariaquimica.com/