Perspectiva Acadêmica: Iniciação Científica

Categorias de iniciação científica e seus órgãos de fomento

Uma iniciação científica é pode ser um processo fundamental na formação acadêmica de universitários da área de tecnologia, pois proporciona um conhecimento precoce do ambiente de pesquisa e desenvolvimento do conhecimento científico. Por meio de programas específicos, como o PIBIC, PIBITI e PIC, os estudantes têm a oportunidade de participar ativamente em projetos de pesquisa, contribuindo para a produção científica e adquirindo habilidades essenciais para a carreira acadêmica ou profissional. Esse contato direto com a prática científica estimula o pensamento crítico, a criatividade e a capacidade de resolução de problemas, fatores importantes para a formação de pesquisadores e profissionais qualificados.

O Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) é uma iniciativa promovida pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) com o objetivo de fomentar a pesquisa científica entre estudantes de graduação. Ele visa a formação de recursos humanos para a pesquisa, promovendo o desenvolvimento de competências científicas e tecnológicas no ambiente acadêmico. O PIBIC é destinado a estudantes de todas as áreas do conhecimento, e promove a oportunidade de participar de projetos de pesquisa sob a orientação de professores, mestrandos e doutorandos. Além de incentivar a vocação científica, o programa busca integrar o ensino à pesquisa, estimulando a formação de jovens talentos para a carreira científica.

O Programa Institucional de Bolsas de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (PIBITI) tem um foco semelhante ao PIBIC, mas com ênfase na inovação e no desenvolvimento tecnológico. Destinado a estudantes de graduação, o PIBITI busca fortalecer o envolvimento dos alunos em atividades de pesquisa que visem a criação e a melhoria de processos, produtos ou tecnologias. Ele incentiva a interação dos estudantes com empresas e indústrias, promovendo a aplicação do conhecimento acadêmico em contextos práticos e produtivos. O programa é especialmente relevante para áreas como engenharia, tecnologia da informação e ciências aplicadas, onde o desenvolvimento de inovações tecnológicas é o objetivo central.

O Programa de Iniciação Científica (PIC) é uma modalidade que pode ser oferecida por instituições de ensino superior ou por outras agências de fomento à pesquisa, além do CNPq. O PIC se caracteriza por permitir a participação de estudantes de graduação em atividades de pesquisa sem necessariamente haver uma bolsa de estudos envolvida. Esse programa tem como objetivo introduzir o aluno no universo da pesquisa científica, proporcionando uma experiência acadêmica que complementa a formação tradicional em sala de aula. As atividades realizadas no âmbito do PIC podem ser desenvolvidas tanto em instituições de ensino como em centros de pesquisa, sendo uma importante porta de entrada para a vida acadêmica e científica.

Cada um desses programas tem um perfil específico que define em quais situações são mais indicados. O PIBIC é ideal para estudantes que desejam iniciar a carreira científica, oferecendo uma base sólida em metodologia de pesquisa. O PIBITI é mais adequado para aqueles que buscam aplicar conhecimentos acadêmicos em contextos práticos e que tenham interesse em inovação e desenvolvimento tecnológico. O PIC é uma opção flexível para estudantes que querem participar de projetos de pesquisa sem necessariamente depender de uma bolsa de estudos. A escolha do programa mais apropriado deve considerar o perfil do estudante, seus interesses e a área de atuação, garantindo uma experiência alinhada com objetivos acadêmicos e profissionais.

Como conseguir uma Iniciação Científica?

Conseguir uma iniciação científica é um processo que pode variar de acordo com a área de interesse e o tipo de projeto que melhor se adequa ao seu perfil. Para aumentar suas chances, é fundamental pesquisar e analisar atentamente os editais de iniciação científica da sua universidade, entendendo as responsabilidades e exigências envolvidas.

Uma boa estratégia é investigar os projetos de iniciação científica em andamento no seu departamento, identificando aqueles que despertam seu interesse. Em seguida, entre em contato com o professor responsável para verificar a disponibilidade de vagas, a carga horária e os detalhes das atividades a serem realizadas.

Resiliência e persistência são essenciais nesse processo. É recomendável conversar com diversos professores, tanto pessoalmente quanto por e-mail, para ampliar suas oportunidades. Em alguns casos, um professor pode se interessar por um aluno com base em seu desempenho em sala de aula ou, até mesmo, por acaso, ao identificar uma oportunidade em uma conversa casual. Se o seu objetivo for iniciar um projeto do zero, é crucial encontrar um professor que compartilhe do seu interesse pelo tema e esteja disposto a oferecer o suporte necessário.

Projetos de pesquisa na Universidade Estadual de Maringá

  1. Desenvolvimento de carvão para tratamento de efluente de estabelecimentos de saúde:

A contaminação dos recursos hídricos por microrganismos patogênicos representa uma preocupação crescente em nível global. Os hospitais, em particular, são fontes significativas de efluentes que contêm uma ampla variedade de contaminantes, tanto químicos quanto microbiológicos e, devido aos elevados custos envolvidos, esses efluentes hospitalares muitas vezes não recebem tratamento prévio, sendo diretamente misturados aos efluentes domésticos nos sistemas de tratamento regionais. Em vista disso, torna-se fundamental desenvolver materiais eficazes que permitam um tratamento sustentável da água.

Neste contexto, o presente estudo propõe o desenvolvimento de materiais antibacterianos naturais através da impregnação de extratos aquosos de alho em carvão ativado, visando a redução da carga microbiana nos efluentes hospitalares. Para avaliar a eficácia desse material, serão realizados testes em soluções que simulam a composição das águas residuais hospitalares, especificamente contaminadas com a bactéria *Escherichia coli* (E. coli), que é exposta pela Figura 1 a seguir:

Figura 1: Imagem de microscópio da bactéria Escherichia coli.

Fonte: Rfi, 2024.

Mais especificamente, no início deste projeto tem-se testes com Alicina (substância sulfurada presente no alho) e carvão ativado, o qual é impregnado com esta substância biocida, ou seja, àquela que controla o crescimento de organismos indesejados, dessa forma o processo começa com a preparação do alho, que é picado, triturado e misturado com água, permitindo a extração da alicina.

Em seguida, o biocida é usado para impregnar o carvão em pequenas quantidades, que variam entre 50 mg e 250 mg e são preparadas para adsorver a Alicina com o objetivo de estudar o potencial de adsorção do sólido, avaliando também a eficiência desta combinação no tratamento de efluentes, em vez de usar métodos tradicionais como o uso de cloro, que, em altas concentrações, pode representar riscos à saúde ao reagir com materiais orgânicos presentes nos efluentes.

Ademais, essa abordagem visa a desenvolver uma solução mais sustentável, econômica e eficaz para a limpeza de águas contaminadas em ambientes de saúde. Atualmente, o foco do projeto está nos testes de impregnação, adsorção e concentração de alicina no carvão, sendo que após esta fase, será feita a avaliação final utilizando água sintética, com o objetivo de verificar se o carvão impregnado com Alicina é realmente um bom adsorvente e limpador de água.

2. Modificação de zeólitas naturais para aplicação na remoção de fármacos de águas contaminadas:

A crescente presença de fármacos em corpos hídricos é uma consequência direta do descarte inadequado e da excreção de resíduos não metabolizados, que acabam por atingir os sistemas de esgoto e, posteriormente, as águas superficiais e subterrâneas. Esses contaminantes emergentes apresentam riscos ambientais e à saúde, tornando urgente o desenvolvimento de métodos eficazes para sua remoção. Entre as abordagens disponíveis, a adsorção se destaca como uma tecnologia promissora devido à sua eficiência e versatilidade.

Este projeto foca no desenvolvimento de materiais adsorventes baseados em zeólitas naturais, visando aprimorar sua capacidade de remover fármacos de águas contaminadas. A pesquisa envolve a modificação estrutural e funcional das zeólitas para melhorar suas propriedades adsorventes. Essas modificações incluem a remoção de impurezas e o ajuste da estrutura cristalina para otimizar a capacidade de captura de moléculas de fármacos.

Após as modificações, as zeólitas foram caracterizadas por meio de técnicas avançadas para garantir que as alterações pretendidas foram alcançadas. Em seguida, serão realizados experimentos de adsorção em soluções aquosas contaminadas com diferentes tipos de fármacos, avaliando a eficiência dos materiais desenvolvidos.

O principal objetivo deste estudo é criar adsorventes mais eficientes e economicamente viáveis, que possam ser utilizados em larga escala para o tratamento de águas contaminadas. Além disso, o projeto busca contribuir para a inovação tecnológica na área de tratamento de efluentes, fornecendo alternativas sustentáveis para a mitigação dos impactos causados por contaminantes emergentes nos ecossistemas aquáticos. Ao final, espera-se que as zeólitas modificadas desenvolvidas possam oferecer uma solução prática e eficiente para a descontaminação de águas, com potencial para aplicação em diversas situações de tratamento de efluentes.

3. Clarificação de xaropes e méis ricos de usina açucareira para produção de etanol

Durante o processamento da cana-de-açúcar, as indústrias geram diversos coprodutos significativos, como xaropes e méis ricos, que são resultado da evaporação parcial do caldo de cana clarificado, e da solução resultante da centrifugação da massa cozida destinada à produção de etanol. Esses processos industriais produzem resíduos nesses coprodutos, que incluem substâncias carbonáceas.

Figura 2: Utilidade da cana-de-açúcar

Fonte: UNICA, 2014.

Os resíduos gerados são compostos principalmente por água, carboidratos e uma variedade de compostos orgânicos, como aminoácidos, ácidos carboxílicos, proteínas, vitaminas e fenóis. A composição desses resíduos pode variar devido a fatores como a variedade da cana, idade, estado de sanidade, maturação, sistema de cultivo, adubação, tratos culturais, condições climáticas e métodos de fabricação utilizados nas indústrias.

O açúcar invertido é um xarope produzido pela hidrólise da sacarose, composto por glicose, frutose e sacarose residual, e sua preparação envolve o uso da enzima invertase.

Este estudo analisa o mel invertido com altas concentrações de Açúcares Redutores Totais (ART), que representam todos os açúcares da cana na forma de açúcares redutores ou invertidos. O objetivo é investigar como a clarificação deste mel pode influenciar a fermentação e a produção de etanol.

A pesquisa começou com a inversão da matéria-prima, que inclui xaropes e méis diluídos obtidos de uma usina de açúcar e etanol, utilizando a enzima invertase. Esses materiais foram avaliados por espectrofotometria para mapeamento inicial da cor e concentração.

Para a clarificação do mel invertido de alta concentração, foram utilizados três métodos distintos: floculantes polieletrólitos, ácido cítrico à base de glicerol e gelatina modificada. Em seguida, foram realizadas fermentações tanto do material clarificado quanto do não clarificado em sistema descontínuo e temperatura controlada. As análises incluíram a determinação da cor, Açúcares Redutores Totais (ART) por método DNS e glicose. Finalmente, foram realizadas destilações para avaliar o rendimento de produção de etanol, analisado por cromatografia gasosa.

Benefícios de realizar uma iniciação científica

A iniciação científica é um programa dentro da graduação que insere os alunos em linhas de pesquisa, proporcionando ao aluno contato com o método científico e estimulando o pensamento científico e criativo. E assim como muitas atividades que existem na graduação, ela possui algumas vantagens, sendo elas:

  1. Preparação para o TCC: a iniciação científica é uma maneira de se preparar para o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Isso porque o programa oferece a oportunidade de explorar novas teorias, desenvolver técnicas de pesquisa e elaborar um artigo conforme as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Além disso, muitos alunos optam por usar o projeto de iniciação como tema para o TCC, uma vez que já iniciaram a pesquisa e possuem familiaridade com o assunto.
  2. Networking: o networking é a atividade de estabelecer conexões com pessoas dentro do mercado de trabalho e a iniciação permite que o aluno tenha contato com outros profissionais da área de interesse, e esses contatos podem ser úteis futuramente na carreira profissional.
  3. Possibilidade de publicação de trabalhos científicos e participação em congressos: Publicar trabalhos científicos é uma forma de se destacar e obter reconhecimento no meio acadêmico, sendo um passo crucial na carreira de A iniciação científica facilita esse processo ao proporcionar oportunidades para a participação em congressos e simpósios, onde o estudante pode compartilhar seus resultados com colegas e profissionais da área.
  4. Preparação de um currículo: outra vantagem sobre realizar um programa de pesquisa é a adição de uma experiência ao currículo acadêmico e ao Lattes. Participar de uma Iniciação Científica pode acrescentar pontos significativos em muitos programas de mestrado.
  5. Desenvolvimento pessoal e profissional: a iniciação científica prepara os alunos para o mercado de trabalho ao desenvolver habilidades essenciais como pensamento crítico, trabalho em equipe, gestão de projetos e apresentação de resultados.

Dessa forma, a iniciação científica desempenha um papel crucial na formação acadêmica e profissional dos estudantes, especialmente nas áreas tecnológicas. Ela não só proporciona uma experiência prática no ambiente de pesquisa, mas também contribui para o desenvolvimento de habilidades que são fundamentais para a carreira acadêmica e profissional.

REFERÊNCIAS

ANTAS, Vitória Narita. CLARIFICAÇÃO DE XAROPES E MÉIS RICOS DE USINA

AÇUCAREIRA PARA PRODUÇÃO DE ETANOL. Maringá: Universidade Estadual de Maringá, 2022.

BARROS, Maria Angélica. Desenvolvimento de carvão para tratamento de efluentes de estabelecimentos de saúde. Maringá: Universidade Estadual de Maringá, 2024.

SOUZA, Juliana. Qual a importância da iniciação científica para sua carreira? Disponível em: https://doity.com.br/blog/importancia-da-iniciacao-cientifica/. Acesso em: 23 ago. 2024.

FABAD, Faculdade. Iniciação científica na faculdade: como funciona e por que fazer? Disponível em: https://portal.fabad.edu.br/blog/iniciacao-cientifica/. Acesso em: 23 ago. 2024.

 

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