O Brasil, com seu extenso território e variados biomas é capaz de fornecer boas condições para o cultivo de diversas plantas oleaginosas como a soja, a mamona e o algodão, essas que são importantes matérias-primas para a produção de biodiesel. Em 2020, o óleo de soja foi responsável por cerca de 71,4% dos insumos utilizados na obtenção desse biocombustível, um reflexo de sua ampla disponibilidade e produção em larga escala no país. Entretanto, essa utilização provoca preocupação social e econômica uma vez que a soja desempenha um papel muito impactante na alimentação brasileira. Diante dessas questões, surgem os óleos residuais de fritura como fonte alternativa para produção de biodiesel, esses que apresentarem um grande potencial econômico que ainda hoje não é amplamente utilizado. Esses resíduos representaram apenas 1,2% da produção de biodiesel no Brasil em 2020.
O biodiesel, um combustível renovável, é formado por ésteres monoalquílicos de ácidos graxos derivados de lipídios, o que permite que ele possa substituir parcial ou totalmente o diesel fóssil convencional sem que haja a necessidade de ajustes nos motores dos veículos. Os lipídios, categoria que abrange óleos e gorduras, são compostos majoritariamente por triacilglicerídeos, que são moléculas de glicerol ligadas a ácidos graxos. Esses ácidos podem ser saturados, quando não possuem ligações duplas em sua cadeia, ou insaturados, quando possuem uma ou mais dessas ligações, influenciando diretamente nas características do biodiesel produzido.
Durante o uso culinário, os óleos de fritura sofrem mudanças físicas e químicas devido à presença de água, oxigênio e altas temperaturas. A água, oriunda dos alimentos, promove alterações hidrolíticas, aumentando a acidez e formando compostos como monoglicerídeos, diglicerídeos e glicerol. O oxigênio reage com os ácidos graxos insaturados, causando oxidação, enquanto a alta temperatura favorece reações térmicas que alteram a estrutura do óleo. Essas transformações resultam em aumento de viscosidade, escurecimento, formação de espuma e redução do ponto de fumaça, tornando o óleo residual inadequado para uso direto na produção de biodiesel. Assim, são necessários pré-tratamentos como filtragem e secagem para remover impurezas e preparar o material para a transesterificação, a etapa central da produção de biodiesel.
Embora a coleta e o pré-tratamento dos óleos residuais representem desafios logísticos e financeiros, os benefícios de sua utilização são significativos. A reciclagem desse resíduo reduz o impacto ambiental, evitando o descarte inadequado e a consequente contaminação de corpos d’água e sistemas de esgoto. Além disso, o custo de aquisição do óleo residual é baixo, já que ele é um resíduo comumente descartado e não requer extração de matéria-prima. A produção de biodiesel a partir desse insumo apresenta um rendimento elevado: cada litro de óleo pode gerar aproximadamente 800 mililitros de biodiesel. Essa alternativa também se destaca pela redução da poluição atmosférica em até 80% em comparação ao diesel convencional.
O processo de produção de biodiesel a partir de óleos residuais segue etapas bem definidas. Na filtragem, as partículas de alimentos e outros resíduos são removidas. Na etapa de secagem, o óleo é aquecido a aproximadamente 80°C, separando-se em três camadas: água, sujeira e óleo limpo. Este último segue para a transesterificação, onde reage com álcool, catalisado usualmente por metilato de sódio, formando biodiesel e glicerina. Após a purificação e secagem, obtém-se um biocombustível de alta qualidade pronto para uso.
A adoção do biodiesel produzido a partir de óleos residuais apresenta vantagens significativas. Além de reduzir a necessidade de cultivo de oleaginosas, permite a utilização de um resíduo que seria descartado e que possivelmente acabaria contaminando o meio ambiente. Essa abordagem também favorece a geração de renda em estabelecimentos com alta geração de óleo residual. Com planejamento adequado, o aproveitamento do óleo residual de fritura na produção de biodiesel representa uma solução sustentável, capaz de unir desenvolvimento econômico e preservação ambiental.
Fonte: FAPERJ
Autores: Bernardo Rocha Silva
Maria Eduarda Souza Jacovine
REFERÊNCIAS
CANDIDO, E. R. C.; Produção de biodiesel a partir de óleo residual de fritura pré-tratado pelo processo de adsorção com material lignocelulósico. Salvador, 2022. Disponível em: <https://portal.ifba.edu.br/salvador/ensino/cursos/superior/graduacao/engenharia-quimica/documentos/TCC/2021/tcc_elena_revollo_final.pdf?utm_source=chatgpt.com>. Acesso em: 15 dez. 2024.
MORAIS, M. O.; SANTOS, D. S.; SILVA, J. F. Biodiesel a partir da logística reversa do óleo de cozinha usado: Estudo de caso em uma empresa de reciclagem. Research Society and Development, v. 13, n. 5, p. e6113545806-e6113545806, 16 maio 2024.
CUNHA, A. C. D.; ESTUDO DA PRODUÇÃO DE BIODIESEL A PARTIR DE ÓLEO
RESIDUAL DO RESTAURANTE UNIVERSITÁRIO DA UNILAB. Disponível em: <https://repositorio.unilab.edu.br/jspui/bitstream/123456789/528/1/2016_mono_acdcunha.pdf>. Acesso em: 15 dez. 2024.
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