Consequências da Guerra da Ucrânia no mercado de Gás Natural e a substituição da matriz energética

“A guerra da Ucrânia foi iniciada em 24 de fevereiro de 2022, após a Rússia invadir o território ucraniano que se localiza na fronteira entre os dois países. A princípio, é interessante fazer uma breve explicação do surgimento dessa guerra, pois o entendimento do contexto é essencial. Dado isso, existem dois pontos essenciais de se levantar: a Ucrânia fez parte do antigo bloco da União Soviética até o ano de 1989 e, dois anos depois, obteve a sua declaração de independência. Portanto, durante muito tempo o povo russo e ucraniano fizeram parte de uma única nação. Nesse sentido, o presidente russo Vladimir Putin declarou diversas vezes que a Ucrânia era território russo. Além disso, um outro ponto a ser elencado como causa da invasão foi o estreitamento da relação ucraniana com o ocidente, visto que o país tenta fazer parte da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) desde 2008. Essa aproximação foi vista como um perigo aos olhos do presidente russo, pois significaria a possível presença do exército estadunidense nas suas fronteiras, situação a qual traria desconforto a Vladimir Putin, visto que historicamente são nações que carregam conflitos.

Adicionalmente, a guerra desencadeou um grande impacto econômico no mundo inteiro, visto que os dois países são grandes produtores de commodities. Com isso, as interrupções no sistema produtivo fizeram com que os preços disparassem, visto que a Ucrânia era uma grande exportadora de trigo e a Rússia de gás natural e petróleo. Em 2022, segundo Orhan (2022), a Rússia era responsável por 19% e 11% da produção de gás natural e petróleo no mundo, respectivamente. Além disso, o autor pontuou que os preços à vista de gás natural na Europa chegaram a ser 10 vezes maiores que um ano antes do começo do conflito, enquanto o custo do petróleo quase dobrou no mesmo período. Ademais, é essencial apontar que 40% do gás natural usado na Europa é de origem russa, logo fica evidente a dependência europeia com os russos. Por fim, a guerra entre Ucrânia e Rússia causou muito impacto no mercado mundial, dado a importância dos dois players.

Com efeito, em resposta à guerra na Ucrânia, a Europa reduziu as compras de gás russo como forma de retaliação e aumentou a importação de gás natural liquefeito (GNL) a preços maiores de outros países, como os EUA (UDOP, 2023). A corrida por gás natural na segunda metade de 2022, principalmente da Europa, fez com que o preço em dólares chegasse ao maior patamar em 15 anos, aproximadamente U$9,20 por MMBtu (TRANDING ECONOMICS, 2023). Com a intenção de diminuir a dependência do gás natural russo, a comissão europeia anunciou um fundo de até Є5,2 bilhões para apoiar e financiar o desenvolvimento e a implantação de projetos na área ligados ao hidrogênio (NEOFEED, 2022). Dado que a indústria do hidrogênio como geradora de energia para a Europa está dando seus primeiros passos e, consequentemente, possui diversos riscos, os investimentos estatais se mostram de grande necessidade. A perspectiva é que no médio e longo prazo a Europa seja cada vez mais independente em relação às fontes externas, como o gás natural russo.

Dentro do sistema produtivo do hidrogênio existem 2 tipos de rotas, a saber: (i) hidrogênio produzido a partir de fontes limpas de energia, como a solar, eólica e hídrica, o qual é chamado de hidrogênio verde; (ii) por outro lado, existe a produção de hidrogênio via fontes de energia não limpas, como gás natural, nuclear, metano e carvão. Em relação ao hidrogênio verde, o seu processo de produção ocorre, basicamente, a partir da eletrólise da água, a qual emite baixo ou nenhum volume de carbono na atmosfera (PROPEQ, 2023). Após a eletrólise da água, ou seja, separação dos átomos de hidrogênio e oxigênio por meio de uma corrente elétrica, o hidrogênio é armazenado e passa a ser uma fonte de energia, consequentemente podendo substituir outros combustíveis, como o gás natural russo.”

 

AUTORES

Representantes do Centro de Conhecimento Bioenergia UFV

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

NEOFEED, BLOG [S. l.], 2022. Disponível em: https://neofeed.com.br/blog/home/a-corrida-bilionaria-da-europa-na-busca-por-fontes-alternativas-de-energia/. Acesso em: 11 ago. 2023.

ORHAN, EBRU. The effects of the Russia – Ukraine war on global trade. Journal of International Trade, [s. l.], 2022. Disponível em: http://jital.org/index.php/jital/article/view/277. Acesso em: 11 ago. 2023.

PROPEQ, BLOG. Tipos e Produção de Hidrogênio Combustível. PROPEQ, [s. l.], 2023. Disponível em: https://propeq.com/producao-de-hidrogenio/?gclid=CjwKCAjw_uGmBhBREiwAeOfsd_xTWG88l3ce0JRA-BsRSG7r6zdwjHKClmeOvBuJOBPcI2JZl9ZeThoCwQAQAvD_BwE. Acesso em: 14 ago. 2023.

TRANDING ECONOMICS. GAS Natural – Contrato Futuro – Preços. [S. l.], 2023. Disponível em: https://pt.tradingeconomics.com/commodity/natural-gas. Acesso em: 11 ago. 2023.

UDOP, União Nacional da Bioenergia. Europa discute saídas para crise do gás natural. União Nacional da Bioenergia, [s. l.], 2023. Disponível em: https://www.udop.com.br/noticia/2023/02/16/europa-discute-saidas-para-crise-do-gas-natural.html#:~:text=Estoques%20viram%20problema%20A%20corrida,pode%20levar%20a%20mais%20preju%C3%ADzos. Acesso em: 11 ago. 2023.

 

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