O universo invisível dos microplásticos

Os microplásticos, cujo nome sugere sua diminuta dimensão, emergiram como um dos principais poluentes nos oceanos, provocando preocupações ambientais significativas. Enquanto alguns pesquisadores estabelecem um limite máximo de 1 milímetro para essas partículas, outros adotam uma medida mais ampla, abrangendo até 5 milímetros.

Essas partículas residuais, com dimensões variando de 0,001 mm a 5 mm, destacam-se como um dos principais agentes poluentes no ecossistema marinho. Os microplásticos podem ser classificados em duas categorias principais: primários e secundários. Os primários originam-se de grânulos presentes em cosméticos, esfoliantes, cremes dentais, medicamentos e são liberados durante a lavagem de roupas sintéticas, bem como pela abrasão de pneus. Já os microplásticos secundários derivam da desintegração de resíduos plásticos maiores, aumentando ainda mais a complexidade desse problema ambiental.

A diversidade de fontes destaca a urgência de abordagens abrangentes para enfrentar o desafio dos microplásticos. Tais abordagens devem abranger desde a regulamentação de produtos de consumo que contêm microplásticos até estratégias eficazes de gerenciamento de resíduos e a promoção de práticas sustentáveis na indústria e no cotidiano. Essa complexidade ressalta a necessidade crítica de um esforço coordenado em níveis global, regional e local para mitigar os impactos prejudiciais dos microplásticos no meio ambiente marinho.

Processo de formação

Os microplásticos que invadem os oceanos têm origens diversas, muitas delas associadas ao descarte inadequado de embalagens, como garrafas e brinquedos. Além disso, o escape de embalagens de aterros, influenciado pelo vento e pela chuva, a lavagem de roupas feitas de fibras plásticas, como o poliéster, e a perda de matérias-primas plásticas, como os nurdles, são contribuições significativas para a poluição ambiental.

A natureza desempenha um papel crucial nesse processo, uma vez que os plásticos descartados inadequadamente sofrem uma quebra mecânica induzida pela chuva, ventos e ondas do mar. Essas forças ambientais fragmentam os produtos em pequenas partículas plásticas, conhecidas como microplásticos.

Investigações revelam que o descarte inadequado de plásticos na indústria e a perda de matérias-primas durante o transporte, como os pellets plásticos, também são fontes consideráveis de poluição por microplásticos. Um estudo realizado pela Fundação North Sea identificou a presença dessas partículas em produtos de beleza e cuidados pessoais, como esfoliantes, shampoos, sabonetes e pastas de dente, exibindo uma variedade de formas plásticas, como polietileno (PE), polipropileno (PP), politereftalato de etileno (PET) e nylon.

Os microplásticos surgem nos oceanos através da gradual fragmentação de macroplásticos, grandes pedaços de produtos plásticos, resultante da exposição à luz solar, reações químicas, ondas e correntes marinhas. À medida que esses pedaços se reduzem, com menos de 5 mm de diâmetro, passam a ser denominados microplásticos.

É relevante destacar que esses microplásticos, originados da fragmentação de plásticos maiores, frequentemente apresentam extremidades pontiagudas e dispersam-se pelos oceanos. Sua capacidade de absorver substâncias tóxicas e passar por alterações químicas contínuas contrasta com a notável durabilidade dessas partículas no ambiente marinho, persistindo por centenas de anos.

Tipos de microplásticos

Os microplásticos podem ser categorizados em dois grupos distintos: os microplásticos primários e os microplásticos secundários, cada um contribuindo de maneira única para a poluição dos oceanos.

Os microplásticos primários compreendem entre 15% a 31% do total nos oceanos, conforme estimado pelo Parlamento Europeu  em 2018. Este grupo consiste em partículas liberadas diretamente no ambiente, resultantes da degradação de materiais. Conforme os dados fornecidos, aproximadamente 35% dos microplásticos primários têm sua origem na lavagem de roupas sintéticas, seguidos por 28% provenientes do desgaste de pneus durante a condução, e 2% são intencionalmente adicionados em produtos de cuidados pessoais, como esfoliantes faciais e sabonetes esfoliantes.

Por outro lado, os microplásticos secundários representam a maior parcela, compreendendo entre 69% a 81% do total nos oceanos. Esses microplásticos têm sua origem na degradação de materiais plásticos maiores, como sacos plásticos, garrafas PET e redes de pesca.

Uma fonte significativa de microplásticos primários é representada pelas roupas sintéticas, responsáveis por uma porcentagem substancial da poluição ambiental. Durante a lavagem, os polímeros das roupas se desprendem e se misturam à água devido ao choque mecânico na máquina de lavar. Além disso, a secagem das roupas sintéticas é identificada como a principal fonte de poluição atmosférica por microfibras de polímeros.

Outro grupo significativo de poluentes dentro das categorias mencionadas são os cosméticos e produtos de higiene, liberando partículas de polietileno que, após o uso, são encaminhadas para redes de água e esgoto. Mesmo em locais com tratamento desses fluidos, as micropartículas não são retidas devido ao seu pequeno tamanho, resultando em seu desaguamento nos oceanos.

Exemplos de uso

Microplásticos estão amplamente presentes em diversos setores da sociedade moderna. Seu uso abrange uma gama diversificada de aplicações, sendo incorporados em produtos de cuidados pessoais, como esfoliantes faciais, sabonetes e cremes dentais. Além disso, tecidos sintéticos, comuns na indústria têxtil, liberam microfibras de plástico durante a lavagem, contribuindo para a poluição ambiental em ecossistemas aquáticos.

A indústria automotiva também desempenha um papel, pois os pneus dos veículos liberam microplásticos por meio da abrasão durante a condução, afetando a qualidade do ar. Na agricultura, microplásticos são usados em formulações de fertilizantes e agentes melhoradores do solo, introduzindo essas partículas nos ecossistemas agrícolas.

Setores como embalagens, construção e medicamentos incorporam microplásticos em suas formulações para melhorar propriedades específicas, como durabilidade e liberação controlada de substâncias ativas. Produtos cosméticos, tintas e revestimentos também fazem uso dessas partículas para aprimorar características estéticas e funcionais.

Apesar da versatilidade e utilidade dessas aplicações, é essencial considerar os impactos ambientais associados ao uso de microplásticos. A liberação descontrolada dessas partículas no ambiente, especialmente nos oceanos, representa uma ameaça significativa para a vida marinha e, potencialmente, para a saúde humana.

Consequentemente, é crucial explorar alternativas sustentáveis e ecoconscientes para reduzir a presença de microplásticos no meio ambiente. Regulamentações mais rigorosas, pesquisa e desenvolvimento de materiais biodegradáveis, conscientização pública e a busca por práticas mais responsáveis na indústria são passos essenciais para lidar com esse desafio global.

Impactos ambientais

Quando se trata dos impactos ambientais dos microplásticos, é evidente que suas principais fontes de poluição estão ligadas a atividades industriais, incluindo o derramamento de matérias-primas utilizadas na produção de plásticos. Isso inclui o pó de resina plástica, pellets utilizados para remover o ar e o corte térmico de poliestireno expandido.

Os microplásticos, devido à sua elevada área superficial, têm a capacidade de absorver compostos tóxicos, como hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (PAHs), bifenilos policlorados (PCBs). A crescente presença global de microplásticos foi identificada como uma preocupação significativa para a vida marinha e até mesmo para os seres humanos.

Pesquisas avançadas indicam que os microplásticos contaminam uma ampla variedade de alimentos e bebidas, além de serem detectados no ar. A bioacumulação e bioamplificação dessas partículas e seus componentes prejudiciais, como aditivos e poluentes orgânicos persistentes (POPs), em diferentes espécies são possíveis.

Os ambientes marinhos e de água doce emergem como os mais afetados pelos microplásticos, demandando maior atenção devido aos danos causados. Essas partículas apresentam sérios riscos para a vida animal, resultando na redução do número de animais, prejuízo ao desenvolvimento de ovos, distúrbios sexuais em répteis e peixes, e alterações metamórficas em anfíbios.

Estudos específicos na região amazônica revelaram que 30% dos peixes dessa área apresentaram contaminação por partículas de plástico. Adicionalmente, a ingestão de microplásticos por espécies de mosquitos foi associada a mudanças evolutivas, indicando impactos significativos nas populações.

Nos últimos anos, a preocupação com os microplásticos como poluentes ganhou destaque na comunidade científica e na sociedade em geral, evidenciado pelo aumento nas publicações científicas e na ampla divulgação do tema nos meios de comunicação. Atualmente, os microplásticos são considerados poluentes ubíquos, presentes em diversas matrizes ambientais, produtos consumíveis e até mesmo no ar que respiramos, destacando a amplitude dos impactos causados pela atividade humana em escala global.

Quanto aos efeitos diretos, a Organização das Nações Unidas (ONU) alerta que há 51 bilhões de partículas microplásticas nos oceanos, representando uma ameaça grave para animais marinhos, incluindo espécies ameaçadas de extinção. Além disso, há preocupações crescentes sobre a presença de microplásticos em alimentos e bebidas, com potenciais implicações para a saúde humana, uma vez que estes podem acumular-se na cadeia alimentar. A presença de substâncias químicas tóxicas nos plásticos, como estabilizadores ou retardadores de chama, aumenta a incerteza sobre os impactos à saúde humana.

Possíveis alternativas

As principais fontes de poluição por microplásticos estão associadas a atividades industriais, como o derramamento de matérias-primas utilizadas na produção de plásticos, pó de resina plástica e pellets usados em processos industriais, incluindo o corte térmico de poliestireno expandido. A regulamentação e restrição desses componentes, especialmente em produtos de cuidados pessoais e cosméticos, emergem como medidas cruciais para limitar a entrada de microplásticos nos ecossistemas aquáticos.

O desenvolvimento de alternativas sustentáveis aos plásticos convencionais é uma estratégia promissora. Investir em pesquisa para materiais biodegradáveis e compostáveis pode reduzir significativamente a emissão de microplásticos no meio ambiente. Paralelamente, a conscientização ambiental e a educação são peças-chave no que diz respeito à adoção de práticas mais sustentáveis e à redução do consumo de produtos plásticos.

A gestão eficiente de resíduos é um ponto crucial na luta contra os microplásticos. Aprimorar os sistemas de reciclagem, promover a reutilização de produtos plásticos e investir em tecnologias avançadas de tratamento de água são passos necessários para evitar a contaminação dos corpos d’água.

O engajamento da indústria é indispensável. Estimular práticas mais sustentáveis, desde a escolha de matérias-primas até o design de produtos, é vital para reduzir a produção e a dispersão de microplásticos. A responsabilidade corporativa desempenha um papel crucial nesse processo.

No contexto dos impactos dos microplásticos na vida animal, observa-se uma redução no número de animais, prejuízos ao desenvolvimento de ovos e distúrbios sexuais em répteis e peixes, além de alterações metamórficas em anfíbios. A ingestão de microplásticos por espécies como mosquitos também pode ter implicações evolutivas, com organismos desenvolvendo resistência a poluentes ao longo de gerações.

Considerando a globalidade do problema, a colaboração entre governos, indústrias, cientistas, organizações não governamentais e o público é essencial. A mudança cultural em relação ao consumo e descarte de plásticos é vital, incentivando práticas mais sustentáveis e ecoconscientes.

Texto elaborado pela Equipe AIChE Maringá

Referências Bibliográficas:

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  • Microplásticos: origens, efeitos e soluções. Atualidade no Parlamento Europeu. Disponível em: https://www.europarl.europa.eu/news/pt/headlines/society/20181116STO19217/microplasticos-origens-efeitos-e-solucoesAcesso em 27 de janeiro de 2024.

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