Anteriormente considerado um resíduo da indústria de carne, o sebo bovino tornou-se uma valiosa matéria-prima para a produção de biodiesel a partir de 2005, com o Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel. Seu destino tradicional era a indústria de sabão e sabonetes, no entanto, com o surgimento da produção brasileira de biodiesel, ele se tornou o principal mercado consumidor para o sebo bovino, trazendo vantagens econômicas, ambientais e sociais para as indústrias de carne e biocombustíveis.
Das matérias-primas usadas na produção de biodiesel, o sebo bovino é a segunda mais consumida, com participação de aproximadamente 13%. Devido à composição química da gordura bovina, as usinas produtoras de biodiesel costumam utilizar essa gordura em mistura com os óleos vegetais para evitar a solidificação do biocombustível.
O sebo bovino é um produto obtido a partir de resíduos de tecidos bovinos, após o processo de cozimento das vísceras e ossos obtidos após o abate do animal, além de partes não comestíveis ou condenadas, de resíduos gordurosos presentes na água usada para lavar os cortes ao longo da linha de processamento e a consequente separação da gordura presente nestes compostos.
A retirada da gordura pode ser feita tanto por prensagem quanto por centrifugação ou utilizando solventes orgânicos, o material sólido é utilizado em rações para animais. O material líquido (sebo) que sai do digestor é então passado por um clarificador, onde se utilizam altas temperaturas (120°C), para retirar a umidade desse sebo de maneira forçada. Após a realização deste processo, o sebo bovino é filtrado e o produto final apresenta aspecto pastoso à temperatura ambiente, de cor esbranquiçada e com odor característico.
Para que o sebo seja aplicado na produção de biodiesel sem demandar pré-tratamentos, parâmetros, como, acidez, umidade, impurezas insolúveis e insaponificáveis devem ser adequadamente controlados, a fim de obter-se uma maior eficiência na transesterificação, além de o sebo bovino se encontrar no estado líquido.
No que tange às características físico-químicas, em razão do sebo bovino apresentar uma concentração maior de ácidos graxos saturados, os ésteres metílicos provenientes da reação de transesterificação demonstram uma maior estabilidade à oxidação quando comparados com os ésteres alquílicos originados de óleos vegetais. Além disso, o biodiesel de sebo apresenta propriedades similares ao diesel, respeitando limites da ANP.
Outra vantagem do biodiesel a partir da gordura animal é que não há competição com a indústria de alimentos e sua matéria prima não está sujeita a eventuais quebras de safra. Entretanto, alguns problemas necessitam ser superados, como a carência de um mercado organizado e a falta de normas técnicas que regulamentem a sua produção e possibilitem a formação de um padrão de qualidade de parâmetros adequadamente controlados, a fim de obter uma maior eficiência na produção. Ademais, o biodiesel produzido a partir do óleo de soja é a preferência do mercado, devido a existência de maiores estudos, consolidação na indústria e por apresentar uma regulamentação assertiva.
AUTORES: BIOENERGIA UFV.
REFERÊNCIAS:
MORAES, M. S. A.. Biodiesel de sebo: avaliação de propriedades e testes de consumo em motor a diesel. 2008. Dissertação (Mestrado em Química) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2008.
COLLARES, D. Sebo bovino é segunda matéria-prima na produção de biodiesel. Embrapa, 04 de novembro de 2019. Disponível em:
<https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/47881589/sebo-bovino-e-segunda-mate ria-prima-na-producao-de-biodiesel>. Acesso em: 20 de outubro de 2023.
MARTINS, R.; NACHILUK, K.; BUENO, C. R. F.; FREITAS, S. M.. O biodiesel de sebo bovino no Brasil. Informações Econômicas, São Paulo, v. 41, n. 5, maio 2011.
CIRCUNVIS, B. C.; SOUZA, B. F. B.. Processos de obtenção de biodiesel a partir de resíduos de sebo bovino: uma revisão bibliográfica. Alimentos: Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente, v. 3, n. 2, p. 57.
Vídeo sobre a produção de sebo bovino para comercialização: https://www.youtube.com/watch?v=-q87K_qdw-s.
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